Tijolos ecológicos de solo cimento: alternativa sustentável à destinação do lodo gerado em estações de tratamento de esgotos



Promovida há 29 anos consecutivos pela AESabesp – Associação dos Engenheiros da Sabesp, a Fenasan – Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente é hoje consolidada e reconhecida como uma das mais importantes feiras do setor de saneamento realizadas no Brasil e no exterior.

 

A feira ocorreu em caráter simultâneo com o Encontro Técnico da AESabesp – Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente é considerada como o maior evento do setor na América Latina. A Fenasan foi realizada entre os dias 18 e 20 de setembro no Expo Center Norte em São Paulo.

 

Antônio Ramos Soares Jr, Supervisor de Coleta e Tratamento de Esgotos da Companhia de Saneamento de Alagoas – CASAL, apresentou o trabalho técnico “Tijolos ecológicos de solo cimento: alternativa sustentável à destinação do lodo gerado em estações de tratamento de esgotos”.De acordo com o supervisor da Casal, os Sistemas de Esgotamento Sanitários são complexos industriais essenciais à manutenção do equilíbrio ecológico e das relações simbióticas sustentáveis entre o homem e a natureza, embora seja sabido que o processo operacional de tratamento de esgotos seja potencial gerador de impactos socioambientais e que por princípio carece de gerenciamento.

 

“Avalia-se que, no Brasil, a maior alíquota de lodo gerado em ETE’s – Estações de Tratamento de Esgotos – tem sido descartada (sem nenhum tratamento) em aterros sanitários, resultando em vicissitudes ambientais e econômicas. Pensando nisto, foi desenvolvido estudo, por intermédio deste trabalho, objetivando avaliar a influência da adição do lodo de esgotos gerado na ETE do município de Santana do Ipanema – AL, sobre as propriedades tecnológicas do tijolo ecológico de solo-cimento”, comentou.

 

O método adotado embasou-se na análise experimental, impetrada a partir dos ensaios de caracterização e qualificação de tijolos-ecológicos de solo-cimento regimentados pela ABNT e pela ABCP. Os resultados apontam que a incorporação do lodo de ETE influencia diretamente nas propriedades tecnológicas dos tijolos ecológicos e demonstram que o lodo analisado pode ser incorporado em formulações de solo-cimento numa proporção aproximada de 5% em relação à massa de solo seco, sem que haja grandes avarias nas propriedades mecânicas da matéria desenvolvida.

 

artigo

 

Antônio Soares Jr salientou, que através dos estudos já realizados com os tijolos de solo-cimento, o trabalho objetiva, a partir de estudo de caso, equacionar a formulação de tijolos ecológicos (Figura 1) através da mistura de solo, cimento Portland, água e lodo seco produzido a partir do Sistema de Esgotamento Sanitário do município de Santana do Ipanema – AL, operado atualmente pela Companhia de Saneamento de Alagoas – CASAL. Logra-se, de outro viés, a necessidade de minimizar o impacto socioambiental potencial dos Sistemas de Esgotamentos Sanitários com usufruto de tecnologias cíclicas capazes de desencadear processos sistemáticos sucessivos e sustentáveis de transformação, de forma que a saúde socioambiental seja afiançada como produto fim do desenvolvimento sustentável.

 

tijolo

 

“Por esta ótica, pode-se assegurar que os tijolos ecológicos de solo-cimento se expõem como alternativa de destinação de resíduos sólidos quando se conforma como veículo tendencioso à formulação de diversas misturas em substituição parcial de seus componentes básicos: solo, cimento e água. É facultada a ideia sustentável das formulações de solo-cimento quando expõe as vantagens dos tijolos ecológicos, que contempla: não passar pelo processo de queima, apresentar maior resistência mecânica, possuir maior isolamento acústico e térmico, combater a umidade e desenvolver menor peso. Através do gerenciamento sustentável dos resíduos sólidos é possível expandir o alcance de preservação da saúde ambiental e humana de forma que o meio ambiente não seja lesado e o ser humano não viva em condições sociais deploráveis”, explicou.

 

Analiticamente o procedimento experimental foi pautado no esquema sintático:

 

1 – Coleta e Caracterização:

 

NBR 7181 (ABNT, 1984)

Granulometria, Densidade Real ME 093 (DNER, 1994)

Tipo de lodo de esgoto Classe A Coliformes Termotolerantes <103 NMP / g de ST, Ovos viáveis de helmintos < 0,25 ovo / g de ST, Salmonella ausência em 10 g de ST e Vírus < 0,25 UFP ou UFF / g de ST e Classe B Coliformes Termotolerantes <106 NMP / g de ST e Ovos viáveis de helmintos < 10 ovos / g de ST (CONAMA 375/2006)

Plasticidade, NBR 6459 (ABNT, 1984 a) e NBR 7180 (ABNT, 1984 b)

Compactação NBR-7182

 

2 – Dosagem e Formulação:

 

ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland – Estudo Técnico 35, 1986

 

3 – Moldagem

 

4 – Cura

 

5 – Qualificação:

 

Absorção de Água NBR 8492 (ABNT, 2012), Perda de Massa por Imersão (DNER 256/94) e Resistência Mecânica (NBR 8492)

 

6 – Disseminação

 

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Antônio Ramos Soares Jr em suas conclusões, enfatizou que outorgar destino sustentável ao lodo de esgotos proveniente das ETE’s, no Brasil, ainda é uma prática pouco utilizada. O que, em linhas gerais, culmina na perda potencial dos benefícios ambientais desencadeados pelo tratamento de esgotos em Sistemas de Esgotamento Sanitários.

 

Na agenda ambiental se vê cada vez mais como método promissor a criação de alternativas ambientalmente seguras capazes de converter resíduos sólidos em tecnologias com valor agregado.

 

“No caso específico da ETE Santana do Ipanema-AL, depreende-se que a aplicação do lodo de esgotos em tijolos ecológicos de solo-cimento vem se mostrando uma alternativa bastante viável de destinação sustentável deste resíduo, inclusive com valor social agregado”, apontou.

 

Nota-se que o tijolo formulado com 10% de cimento Portland e 5% de lodo de esgotos, empreende, conforme os ensaios de avaliação qualitativa, características técnicas viáveis à produção, segundo as normas da ABNT.

 

“Todavia, não se descarta a possibilidade de postular, num próximo momento, testes mais aprofundados com solos mais plásticos e dosagens ainda mais ousadas a fim de se obter dados mais precisos acerca da tecnologia produzida. Tais incrementos desembocarão, por ventura, num conhecimento mais amplo do produto final, permitindo, portanto, o agenciamento da melhor e mais consistente dosagem”, frisou.

 

Finalizou mencionando que, diante de uma ótica qualitativa, considera-se necessário avaliar os impactos ambientais impetrados pelo tijolo ecológico numa perspectiva de médio e longo prazo através dos ensaios de lixiviação e solubilização, e caracterização química mais aprofundada do lodo de esgotos, indispensáveis ao desenho ambiental do produto final diante de um cenário futuro.

 

Referência: Antônio Ramos Soares Júnior, Israel Correia Oliveira e Julio Cesar Moura Menezes Júnior.

07-12-2018