Só 3% dos rios de São Paulo estão limpos



A poluição dos recursos hídricos prejudica o abastecimento humano, a produção de alimentos, a pesca, o lazer e a vida marinha. Entre os vilões que contaminam as águas estão o esgoto doméstico, o desmatamento e o uso de agrotóxicos.

 

Se os rios do Estado de São Paulo fossem pessoas, seriam como mortos-vivos. O diagnóstico está em um levantamento recente feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, que monitorou os recursos hídricos das bacias do Alto e Médio Tietê e do Litoral Norte.

De 134 pontos de coleta analisados, somente 4 (3%) apresentaram boa qualidade da água. A poluição está presente em 41 rios do Estado, considerados indisponíveis para atividades como abastecimento humano, produção de alimentos, pesca e lazer.

Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da SOS Mata Atlântica, diz que o próximo governo precisa ficar atento a dois fatores: esgoto doméstico e agrotóxicos.

Analise do Tietê

 

“Os principais vilões da poluição da água no Estado de São Paulo hoje são o esgoto doméstico e os agrotóxicos. Então, é preciso que o Estado seja mais restritivo. Tem que investir em saneamento básico, em proteção de mananciais, restauração de nascentes e na integração entre água e floresta, sobretudo a mata atlântica. Tudo isso é essencial para que o Estado tenha segurança hídrica e sustentabilidade”.

 

Um dos rios analisados no levantamento é o Tietê, que corta o Estado de São Paulo com mais de mil quilômetros de extensão. De 15 pontos analisados, só dois apresentaram boa qualidade. O pior trecho está justamente onde há mais concentração de pessoas e menos saneamento, entre a região de Guarulhos e a cidade de Pirapora do Bom Jesus.

 

Para o ambientalista Mário Mantovani, especialista em Políticas Públicas, a solução não está em obras faraônicas com custo elevado para os cofres públicos. E sim em políticas públicas que priorizem o reflorestamento das matas ciliares.

 

“São Paulo ainda tem um déficit muito grande de áreas verdes na área da cana, que é uma boa área de cobertura do Estado de São Paulo, e na área do Vale do Paraíba, com pastagens muito degradas e que podemos fazer um processo de restauração. Não existe uma fábrica de água. O grande desafio da nova política é plantar nas matas ciliares, recuperar as nascentes e criar incentivos aos proprietários rurais com pagamentos de serviços ambientais”.

 

O Estado de São Paulo tem um passivo de mais de um milhão de hectares para restauração. Mas, os projetos de reflorestamento atuais abrangem apenas 10 mil hectares de matas ciliares. As autoridades paulistas repetem sempre que o desmatamento no Estado é quase zero. O gerente em Restauração Florestal da TNC Brasil, Rubens Benini, explica o motivo.

 

“O Estado de São Paulo pisou um pouquinho no freio, não está desmatando mais a mata atlântica, até mesmo porque o que sobrou está em área de difícil acesso, com alta declividade, difícil de mecanizar, área em que a agricultura não chega muito fácil. Então é por isso que hoje o desmatamento da mata atlântica em São Paulo está próximo do desmatamento zero”.

 

De acordo com o INPE, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, apenas 12% da cobertura original de mata atlântica permanece em pé no Brasil – boa parte em São Paulo. Voltar a ter rios mais limpos passa por conservar o que restou e restaurar aquilo que se destruiu.

Fonte: CBN

05-09-2018