Qualidade da água na bacia do rio Doce piora



Dois anos após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, a qualidade da água de rios que compõem a bacia do rio Doce piorou. O alerta é da Fundação SOS Mata Atlântica, que realizou a terceira expedição para monitorar a qualidade da água depois do desastre ocorrido em novembro de 2015.

 

Entre 11 e 20 de outubro, a equipe percorreu o rastro da lama por 733 km ao longo de todo o rio Doce, desde os seus formadores - os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo - a uma centena de afluentes que formam a bacia e banham 29 municípios e distritos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A organização concluiu que a qualidade da água está ruim ou péssima em 88,9% dos 18 pontos de coleta analisados e que apenas dois pontos apresentam qualidade regular (11,1%).

 

Em todos os pontos monitorados a qualidade da água estava imprópria para consumo humano e usos múltiplos, como pesca, irrigação e produção de alimentos. Apenas três pontos apresentaram conformidade com o padrão definido na legislação brasileira para turbidez, um dos indicadores diretamente associado ao impacto da lama de rejeito de minério.

 

Apesar de visualmente a água estar mais clara, Malu Ribeiro, especialista em Água da Fundação e responsável pela expedição, explica que o sedimento de rejeito de minério está presente em todo o leito do rio e, por ser muito fino, qualquer movimento das águas faz com que ele fique em suspensão, aumentando novamente a turbidez para índices impróprios. "A seca extrema e o baixo volume das águas causaram uma concentração dos poluentes, o que fez com que a poluição, apesar de imperceptível a olho nu, esteja em concentração bem maior do que no ano passado", observou Malu.

 

Em sete dos 16 pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim foi constatada ausência de vida aquática, como girinos, sapos e peixes. "Nesses locais, o espelho d'água estava repleto de insetos e pernilongos, vetor de graves problemas de saúde pública, como a dengue, zika, chicungunha e febre amarela", alertou.

 

Nove pontos de coleta apresentaram sinais de vida aquática. Eles estão localizados onde existem fragmentos de mata nativa ou que contam com áreas de preservação permanente. "Esses locais foram menos afetados com o impacto da lama. Mesmo com tamanha tragédia, é possível notar alevinos, conchas, girinos e poucos peixes, sobretudo nos pontos próximos a afluentes de maior volume", disse.

 

A elevada turbidez, o baixo volume dos rios, o excesso de nutrientes em decomposição lançados pelo esgoto sem tratamento e as altas temperaturas reduziram os índices de oxigênio dissolvido. "Para a recuperação da qualidade da água, é essencial que sejam adotadas medidas efetivas de restauração florestal com espécies nativas, de revitalização da bacia e a ampliação dos serviços de saneamento básico e ambiental nos municípios afetados", acrescenta Malu.

 

Saúde pública

 

De acordo com a Fundação, a água do rio Doce continua fora dos padrões legais para um rio de classe 2 e apresenta concentrações elevadas de sólidos em suspensão e metais pesados, como manganês, cobre, alumínio e ferro, em diferentes trechos monitorados ao longo da expedição.

 

Apenas dois pontos de coleta, localizados em Perpétuo Socorro e Governador Valadares, ambos no rio Doce, não apresentam índices de cobre na água. Nos outros 16 pontos monitorados a concentração desse metal está acima do permitido. O consumo de pequenas quantidades desse elemento pode provocar náuseas e vômitos. Quando ingerido em grandes quantidades, pode afetar os rins, inibir a produção de urina e causar anemia devido à destruição de glóbulos vermelhos.

 

Cinco dos pontos analisados apresentam concentração de manganês acima dos índices permitidos. A ingestão desse metal pode trazer rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza. Pesquisas realizadas em animais apontam que o excesso desse componente no organismo provoca alterações no sistema nervoso central e pode levar à impotência.

 

 

Com informações da SOS Mata Atlântica

20-11-2017