Falta água para mais de 500 famílias em Brumadinho



A falta de água que já levou 93 municípios mineiros a decretarem estado de emergência comprometeu a qualidade de vida de mais de 500 famílias de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, segundo denúncia da organização não governamental (ONG) Abrace a Serra da Moeda. De acordo com a entidade, as nascentes de Suzana (Suzana A e B), na serra da Moeda, que abastecem parte da região, vêm reduzindo drasticamente suas vazões, devido à atuação da fábrica da Coca-Cola Femsa, instalada no município de Itabirito, às margens da BR–040, em 2015.

 

Conforme a ONG, a nascente Suzana A tinha, na época da instalação da fábrica, em 2015, uma vazão de 19 m³/h de água, número que caiu para 10,5 m³/h em 31 de agosto deste ano, o que corresponde a uma queda de quase 50% no volume hídrico, segundo relatório do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Itabirito.

 

“Para atingir sua capacidade máxima de produção, a fábrica de refrigerantes demanda grande quantidade de água, retirada do aquífero Cauê, que alimenta as nascentes de Suzana e Campinho A, B e C. A Campinho B, por exemplo, secou completamente em abril de 2016. Com isso, a população local, estimada em 300 habitantes, passou a ser abastecida por quatro caminhões-pipa diários enviados pela Coca-Cola”, afirma a presidente da organização, Maria Cristina Vignolo.

 

“Mesmo sabendo disso, o órgão ambiental competente autorizou a empresa a continuar extraindo 173.253 m³ de água por mês para atender à demanda de seus poços, embora a fábrica não tenha apresentado estudo prévio de impacto ambiental e hídrico”, diz ela.

 

Outro lado. Em nota, o SAAE de Itabirito afirma que a perfuração dos poços que abastecem a fábrica seguiu a orientação de estudos de hidrogeologia que apontaram que, para alcançar o aquífero Cauê, esses deveriam ser perfurados próximo à base da Serra da Moeda, o que foi feito.

 

Ainda segundo a nota, “os poços foram perfurados com autorização prévia do órgão competente e são outorgados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam)”. Quanto à sustentabilidade hídrica da captação, a SAAE afirma que “esta se baseia em estudos científicos independentes, promovidos por profissionais de hidrogeologia”.

 

Por isso, “segundo os estudos e monitoramentos ambientais feitos regularmente na região, não é possível afirmar que é a operação dos poços de captação do SAAE que estão secando os mananciais que abastecem a localidade de Campinho”.

 

Coca-Cola diz que estudo dá segurança

 

Procurada, a Coca-Cola Femsa Brasil esclarece, por meio de nota, “que a operação em Itabirito possui todas as licenças ambientais, e diz que o abastecimento de água de sua fábrica é realizado pela Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), que possui outorga dos poços utilizados”.

 

Segundo a empresa, “evidências técnicas indicam que os poços não estão interferindo nas nascentes”. Essa afirmativa se baseia nos resultados de estudo hidrogeológico elaborado pela Schlumberger Water Services.

 

Quase 1 milhão de pessoas atingidas em Minas

 

Segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, 93 municípios mineiros estão em estado de emergência pela falta de água, o que significa dizer que cerca de 937 mil pessoas são atingidas pela seca no Estado. O alerta foi feito em audiência pública realizada na manhã dessa quinta-feira (21), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

 

Para ele, a crise é hídrica, mas o problema é de gestão. Por isso, Polignano defendeu que o Estado crie políticas públicas de gestão das águas como forma de enfrentamento.

 

Polignano relatou que os recursos do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado (Fhidro) estão sendo contingenciados, o que resulta em R$ 250 milhões a menos de investimento na gestão hídrica. “A situação é grave”, disse.

25-09-2017