Fundação debate plano para recuperar Rio Doce um ano e meio após tragédia de Mariana



No dia em que o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (Região Central de Minas), completou um ano e meio, a Fundação Renova, ligada à mineradora Samarco, anunciou plano para restauração florestal do Vale do Rio Doce. A meta da fundação é recompor o solo às margens dos cursos d’água impactados pelo desastre. Em 5 de novembro de 2015, milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos vazaram do reservatório e devastaram uma área de 2 mil hectares, naquela que é considerada a maior tragédia ambiental do país.

O plano, que prevê recuperação de 47 mil hectares de vegetação ao longo da Bacia do Rio Doce, está em elaboração e deve ficar pronto em 60 dias. O projeto de recuperação foi debatido em workshop com especialistas realizado ontem pela Fundação Renova em Nova Lima, na Grande BH. Para colocar o plano em prática, a entidade pretende investir R$ 1,1 bilhão, ao longo de 10 anos. As primeiras ações devem ser executadas dentro de dois meses, quando o estudo for concluído, e vão se somar a atividades já em andamento nos primeiros 100 quilômetros por onde a lama passou.

 

O trecho inicial corresponde ao trajeto entre o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, conhecida como Candonga, próximo a Ponte Nova, na Zona da Mata. A área total impactada, de 2 mil hectares, corresponde a seis vezes o Parque das Mangabeiras, em Belo Horizonte, ou nove vezes o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Nessa área, o impacto do desastre em Áreas de Preservação Permanente (APPs), como matas ciliares, florestas em nascentes e vegetação das encostas, atingiu 600 hectares de mata atlântica.

 

Soluções A proposta de reunir especialistas de diferentes áreas, segundo o presidente da fundação, Roberto Waack, é a encontrar soluções de curto e longo prazo que possam conciliar a restauração do solo à produção rural existente nas regiões alvo do trabalho, tendo em vista que estas são propriedades particulares. “Não há como ter uma frente única para restauração ambiental sem combiná-las com a produção. Esse é um fundamento muito importante do plano que estamos desenvolvendo, porque áreas à margem do rio que já haviam sido usadas para atividades econômicas, como pastos, por exemplo, terão de voltar a ser florestas”, afirma o presidente, lembrando que o código florestal exige que 20% do total das propriedades sejam destinados a áreas de conservação. Para isso, Roberto afirma que a fundação vai investir em tecnologia para intensificar outras formas de produção econômica, como forma de evitar perdas financeiras para a população dessas áreas.

 

Outro desafio é garantir que o plano tenha uma gestão territorial estratégica, como ele explica: “Não é possível olhar para cada propriedade separadamente. É preciso pensar na gestão da paisagem e pensar soluções que garantam conectividade entre diferentes tipos de paisagem, como são os corredores ecológicos”. Roberto diz que, a partir do workshop, os profissionais envolvidos estão conhecendo diferentes tecnologias. “Cada situação depende das condições ambientais do local”. Atualmente, há experimentos de restauração do meio ambiente sendo realizados no trecho dos primeiros 100 quilômetros, que envolvem vegetação e nascentes, bem como retirada de rejeitos.

10-05-2017