O comércio de Belo Horizonte não está pronto e não vai conseguir cumprir a lei que proíbe o uso de sacolas plásticas, que entra em vigor na próxima segunda-feira. De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte (Sindilojas), Paulo Cançado, a maioria dos lojistas ainda tem sacolas plásticas estocadas, e a única empresa que fabrica as embalagens compostáveis não consegue atender a tempo todos os pedidos. Ele afirma que a entidade vai pedir à prefeitura mais seis meses de prazo para se adequar à lei.
"O comércio não tem como cumprir a lei agora", diz. "Todos os pedidos novos estão sendo feitos para as novas sacolas, mas ainda não recebemos", completa. Cançado lembra ainda que, ao contrário dos supermercados, que têm embalagens padrão, as lojas demandam sacolas de todos os tamanhos, "para embalar um brinco e uma bicicleta", e terão que arcar com os custos da nova embalagem, já que não irão cobrar do consumidor. A nova sacola custa 20 vezes mais que a de plástico.
A diretora comercial da Extrusa, única empresa que fabrica a sacola compostável que será admitida em Belo Horizonte, Gisele Barbin, diz que foram desenvolvidos quatro tamanhos de sacola para "atender a todo o comércio" e que, até agora, recebeu apenas pedidos dos supermercados. Ela garante que a empresa tem condições de atender a toda a demanda capital. "Não recusei nenhum pedido", afirma.
Polêmica. A decisão de banir as sacolas plásticas de Belo Horizonte está longe de ser unanimidade. Enquanto os supermercados defendem os benefícios ambientais da medida, o presidente da Plastivida Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos, Miguel Bahiense, que representa 85% da indústria do plástico, faz críticas. "Não creio ser correto obrigar a população a usar apenas um tipo de material. É um retrocesso", afirmou.
Para ele, o apelo de banir a sacola plástica é "muito bonito", mas representa um custo a mais para o consumidor, já que a nova sacola custará R$ 0,19. Ele diz ainda que o plástico não é o maior vilão ambiental e não vai sumir do mercado, já que os sacos de lixo que as pessoas comprarão ainda serão feitos do material.
"Classificar a sacola plástica como vilã do meio ambiente é, no mínimo, um erro, porque não há o cuidado técnico, científico, social e econômico para se trazer uma decisão como essa", diz. Ele aposta que a lei não vai "pegar" porque não foi discutida com a sociedade.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria das Embalagens Plásticas (Abief), Alfredo Schmitt, disse que as sacolas plásticas são 100% recicláveis. "Os supermercados estão querendo é vender a sacola. Todas as soluções apresentadas causam ônus ao consumidor. É um marketing econômico disfarçado de marketing ambiental", atacou. Mas o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, disse que a intenção é eliminar o uso de qualquer sacola que não seja a retornável.
Procura
Trezentas mil retornáveis já vendidas
O superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, informou que o consumidor de Belo Horizonte já adquiriu quase 300 mil sacolas retornáveis nas cerca de 1.100 lojas de supermercados da capital.
"A Amis não imaginava que seria tão alta a adesão", avaliou. Os supermercados colocaram à venda em torno de 1 milhão de sacolas retornáveis. Ele acredita que haverá redução do uso da sacola plástica em 95% num período de seis meses. (HL)
Meio ambiente
Pesquisa afirma que a embalagem retornável é pior
As sacolas plásticas trazem menor impacto ao meio ambiente que as embalagens feitas de outros materiais, especialmente o algodão usado nas retornáveis, aponta uma pesquisa da Agência Ambiental do governo britânico. Os pesquisadores verificaram o ciclo de vida de sacolas de algodão, ecobags, sacos de papel e sacolas plásticas tradicionais, e descobriram que a proporção de matéria-prima usada nas sacolinhas de plástico, em comparação com o número de vezes que elas podem ser utilizadas, faz com que elas sejam melhores que os outros tipos.
A pesquisa mostrou que, para reduzir o potencial de aquecimento global da sacola de plástico, ela teria que ser usada cinco vezes. Já a sacola de papel teria que ser usada quatro vezes, as bolsas de TNT precisariam ser usadas 14 vezes e a bolsa de algodão, 173 vezes para ser "sustentável".
O relatório aponta que a utilização dessas embalagens consideradas mais corretas ecologicamente está longe de ser a ideal. No caso dos sacos de papel, raramente eles são utilizados mais do que uma vez. Já as sacolas de algodão são usadas, em média, apenas 51 vezes antes de serem descartadas. (HL)
Carrefour usa caixa de papel
Ontem, as sacolas plásticas não estavam mais disponíveis no Carrefour do bairro Santo Agostinho. Como as compostáveis também não estavam à venda, quem não levou sua sacola passou aperto.
A rede não comentou o fato e informou apenas que é a favor da lei que proíbe o plástico e que, a partir de segunda-feira, terá as duas sacolas (retornáveis e compostáveis) à venda. (APP)