Após um investimento de mais de R$ 40 milhões, a inauguração, nesta quarta, de uma nova adutora com cerca de 28 km de extensão para captar água do rio Paraopeba promete finalmente resolver o abastecimento de água em Pará de Minas, na região Central do Estado. Também virá do Paraopeba a salvação para o abastecimento na região metropolitana de Belo Horizonte, segundo a Copasa. A empresa estima começar a captar água do rio em 20 de dezembro deste ano, após a finalização de uma obra que consumirá R$ 128,4 milhões do governo do Estado.
Para o ambientalista e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinicius Polignano, porém, a preocupação é se essas captações não irão prejudicar a manutenção do rio. “Tem que ser feita uma avaliação se essa situação não vai sobrecarregar o Paraopeba”, diz Polignano.
Somando as duas obras, será possível captar 8.000 litros de água por segundo (l/s) do rio Paraopeba. A empresa Águas de Pará de Minas, responsável pelo abastecimento na cidade, tem uma outorga de 3.000 l/s. Já a Copasa poderá retirar 5.000 l/s do manancial. “O órgão responsável nos deu a outorga, a autorização para captar essa vazão. Se a Copasa também tem autorização, é porque o órgão considerou que o rio tem essa capacidade. O que eu posso dizer é que a capacidade de vazão dele é infinitamente maior do que a que será retirada”, afirma o superintendente da Águas de Pará de Minas, Thiago Contage.
Polignano, porém, critica a política para solucionar os problemas causados pela escassez do recurso. “Estão insistindo em fazer a gestão de reservatórios, quando precisamos fazer a gestão dos rios. Não podemos apenas retirar água sem pensar em como vamos produzi-la. É o que chamamos de vazão ecológica”, explica Polignano.
A falta de água, porém, tem afetado a população. “Estou há nove dias sem água. Tenho que comprar água mineral para tomar banho, não cozinho mais em casa, não lavo roupa”, conta a moradora de Pará de Minas Maria de Lourdes Oliveira, 67, aposentada.
“Nosso objetivo com a obra é resolver o problema de abastecimento da população, que já está sendo enfrentado há anos”, afirma o prefeito de Pará de Minas, Antônio Júlio de Faria. Segundo informações da empresa Águas de Minas, a captação atual da cidade é de 30 l/s a 50 l/s, e para atender toda a população seriam necessários 180 l/s.
Já o sistema Paraopeba, que abastece BH e região, atingiu a sua pior baixa desde a medição. Os reservatórios que compõem o sistema – Rio Manso, Serra Azul e Várzea das Flores – chegaram nesta terça à marca de 25,6% de sua capacidade, segundo a Copasa. A empresa informou, porém, que não existe risco de desabastecimento mesmo que não chova, em função da captação do Paraopeba a partir de 20 dezembro.
Sem recurso
Comitê. O presidente do CBH do Rio das Velhas, Marcus Vinicius Polignano, criticou o governo mineiro, que não repassou à entidade recursos arrecadados de 2014 e de 2015, no valor de cerca de R$ 5 milhões.
Concessionária não tem impedimento jurídico
Para o prefeito de Pará de Minas, Antônio Júlio de Faria, a licitação que definiu a empresa Águas de Pará de Minas como responsável pelo abastecimento de água no município não corre o risco de ser cancelada pela Justiça. “A empresa que entrou com a ação contra o processo de licitação desistiu do processo. Sendo assim, acredito que falta apenas o juiz homologar a decisão. Não tem nenhuma chance de mudança”, alega Antônio Júlio.
Em setembro deste ano, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) anulou a concorrência pública realizada pela Prefeitura de Pará de Minas que resultou na contratação da Águas de Pará de Minas no lugar da Copasa.
A empresa que entrou com o pedido foi a Zetta Ambiental, que alegou restrição da concorrência.
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Obra teve que ser antecipada
A obra que será inaugurada nesta quinta em Pará de Minas foi adiantada para solucionar a falta de água que a população da cidade tem enfrentado. “No contrato, teríamos até o segundo ano de concessão, ou seja, abril de 2017, para finalizar essa obra que estamos entregando agora”, afirma o superintendente da empresa Águas de Pará de Minas, Thiago Contage.
O gestor explica que, diante da urgência, foi necessário adaptar o projeto inicial da obra. “O projeto demoraria, no mínimo, um ano para ser finalizado. Mas fizemos algumas adaptações e um investimento de mais de R$ 40 milhões para entregarmos em seis meses”, diz o superintendente.
Segundo o prefeito de Pará de Minas, Antônio Júlio de Faria, a obra que está sendo apresentada nesta quarta é uma primeira etapa. “Não é um serviço definitivo. A empresa ainda vai investir mais. O projeto como um todo prevê a captação de 260 litros por segundo (l/s)”, explica.
Segundo Contage, nesse primeiro momento, já é possível captar de 90 l/s a 120 l/s do rio Paraopeba. Somando a captação dos mananciais, que está em torno de 30 l/s a 50 l/s, a captação estará bem próxima dos 180 l/s necessários para abastecer o município. “Com isso não vamos mais fazer o rodízio que utilizamos na cidade”, explica Contage.
O superintendente estima que nos próximos três dias o abastecimento vai estar regularizado em toda a cidade. “A água já chega na estação de tratamento, mas, para conseguirmos atender todas as áreas de cidade, precisamos regularizar o sistema hidrostático. Ou seja, todos os canos devem estar cheios de água para que o bombeamento funcione”, diz.
09-10-2015