Tóquio alerta para radiação na água

De acordo com o governo metropolitano, a água testada apresentava o dobro do aceito para ingestão por crianças e bebês. Um funcionário da prefeitura informou que amostras coletadas na quarta-feira apresentaram 210 Becquerel de iodo por quilo, excedendo os 100 Becquerel por quilo, nível considerado aceitável para crianças. O limite de iodo em água corrente para um adulto é de 300 Becquerel por quilo. O governo recomendou assim que as crianças de 23 bairros do centro da capital e outros cinco distritos vizinhos (Musashino, Machida, Tama, Mitaka e Inagi) não consumam água de torneira.

Depois da divulgação da informação, o chefe de gabinete do governo do Japão, Yukio Edano, afirmou que o governo do país pede que os consumidores não estoquem garrafas de água. O temor já se espalhou e os japoneses estão em uma corrida por água mineral nos supermercados -onde o produto está sendo racionado. Mais tarde, o Ministério da Saúde do Japão declarou que pediu que o governo prefeitural (estadual) de Fukushima informe à população que a água da torneira não deve ser consumida por crianças que vivem na cidade de Iwaki, no Norte do país, também em razão do excesso de iodo.

As crianças são especialmente vulneráveis ao iodo radioativo, que pode causar câncer de tireoide. Os limites, contudo, se referem ao consumo prolongado da água ou alimento contaminado e as autoridades pediram calma. A orientação é que não se dê mais água de torneira aos bebês, mas não há risco se eles consumiram pequenas quantidades. "Mesmo se você beber esta água por um ano, não afetará a saúde das pessoas", disse Edano. Especialistas dizem que o iodo-131 se dissipa rapidamente no ar, com metade dele desaparecendo a cada oito dias.

O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, ordenou a proibição da venda de leite e verduras (principalmente espinafre, brócolis, couve e couve-flor) procedentes das cidades de Fukushima e Ibaraki, no Nordeste do país, devido aos altos índices de radioatividade emanados da usina nuclear de Fukushima. Depois de alguns alimentos provenientes da região onde ocorreu o desastre atômico apresentarem altos índices de contaminação, vários países começaram a restringir a entrada de produtos japoneses. O Ministério da Saúde também solicitou às cidades de Chiba e Ibaraki que reforcem os programas de inspeção dos produtos pescados em sua costa.

MORTES A Polícia Nacional do Japão anunciou que o número de mortes pelo terremoto e tsunami chegou a 9.487 em seis prefeituras e os desaparecidos somam 15.617 em 12 prefeituras. A polícia alertou que o número deve continuar subindo diariamente e estima que o saldo final de vítimas da tragédia possa ultrapassar os 25 mil. Um porta-voz da polícia de uma das prefeituras mais atingidas, Miyagi, estima que as mortes superarão 15 mil apenas na região.

A situação nas usinas de Fukushima ainda é grave e funcionários da Tokio Electric Power (Tepco), que administra o complexo, tiveram que deixar o local depois que o reator 3 voltou a soltar fumaça. Mais tarde, autoridades divulgaram que o índice de radiação na usina nuclear estava a 435 microsieverts, duas horas antes de fumaça emergir de seu reator número 3, mas caiu para 283,7 microsieverts depois que a fumaça foi vista. As duas medidas estavam excepcionalmente altas em comparação com os índices dos últimos dias. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse nesta quarta-feira que a situação geral em Fukushima ainda é alvo de preocupação.

O medo da radiação provocou o êxodo em massa de estrangeiros e o mais recente efeito foi o fechamento temporário de embaixadas em Tóquio. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Takeaki Matsumoto, 25 representações diplomáticas fecharam suas portas. "O restante delas deixa seus funcionários em casa. Elas estão mudando seu esquema de trabalho a cada dia", explicou Matsumoto. A Embaixada do Brasil continua funcionando, apesar de manter parte de seus funcionários trabalhando em casa.

PARTÍCULAS NA EUROPA Os governos da Islândia e da Finlândia informaram que partículas de radiação provenientes da usina de Fukushima chegaram aos dois países. Os resíduos, no entanto, não representam riscos à saúde humana. Na Finlândia, a Autoridade de Radiação e Segurança Nuclear (Stuk) anunciou que foram detectadas partículas de iodo radioativo procedentes do Japão em duas estações de medição em Helsinque e Rovaniemi (na região da Lapônia).

Segundo a agência nuclear finlandesa, as quantidades de isótopos de iodo 131 detectadas são tão pequenas (menos de um milibecquerel por metro cúbico de ar) que não representam nenhum risco para a saúde. "A concentração de partículas deveria ser pelo menos um milhão de vezes maior para que fosse necessário tomar algum tipo de medida", afirmaram os diretores da Stuk em nota oficial. Os especialistas finlandeses acreditam que a nuvem radioativa deverá se estender por todo o hemisfério norte, embora com efeito inofensivo à saúde humana.

 

Europa planeja rever segurança

 

Bruxelas - Líderes europeus discutem medidas rígidas sobre a segurança nuclear, depois que vários governos anunciaram revisão de sua política nuclear na esteira do terremoto e tsunami de 11 de março no Japão. Documento prévio vazado à imprensa indica que o bloco provavelmente adotará normais severas de segurança, podendo beneficiar a França, que procura argumentos em favor de seus reatores avançados EPR. "A segurança das usinas nucleares da UE deve ser revista com base em uma avaliação ampla e transparente de riscos e segurança - testes de estresse", disse o texto provisório de uma declaração preparada para ser assinada por líderes da UE em uma cúpula marcada para Bruxelas hoje e amanhã.

A Alemanha rapidamente suspendeu as operações em sete usinas nucleares velhas; a Áustria pediu a realização de "testes de estresse" em toda a Europa; a Itália anunciou uma moratória de um ano sobre usinas novas, e a Bulgária intensificou as restrições a seu projeto nuclear de Belene, próximo de uma zona de atividade sísmica.

A França, importante exportadora de tecnologia nuclear, vem promovendo os aspectos de segurança de seus reatores EPR de próxima geração enquanto compete por vendas nos mercados internacionais. Uma grande intensificação da segurança nuclear poderá traduzir-se em novas receitas para a empresa francesa Areva, fabricante de reatores, que afirma que suas usinas de última geração são mais seguras que a tecnologia mais antiga e conseguem resistir a choques importantes, como terremotos e quedas de aviões.

O texto provisório também diz que testes de estresse devem ser desenvolvidos no menor prazo possível e que deve ser feito uso pleno de especialistas, especialmente da Associação de Reguladores Nucleares da Europa Ocidental (Wenra). Em uma reunião de emergência de ministros europeus da área energética, no início da semana, a França já se manifestou a favor da Wenra, que procura difundir as melhores práticas em matéria de segurança nuclear.