Os montes de entulho que cobrem acostamentos e canteiros em rodovias como o Anel Rodoviário, a MG-030 e a BR-040, tanto na saída de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro quanto para Brasília, se alastraram para dentro dos bairros da cidade. Em vez de pagar para que restos de construções, reformas e demolições sejam armazenados de forma apropriada em depósitos que cobram pelo serviço, caminhoneiros e carroceiros se tornaram mais ousados e na calada da noite estão emporcalhando também passeios e lotes em áreas nobres, como os bairros Belvedere e Santa Lúcia, na Região Centro-Sul da capital. Apesar da mobilidade dos transportadores que formam pontos de bota-fora, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) continua a monitorar os mesmos 825 locais de descarte clandestino mapeados há dois anos. Prova de que as pilhas só aumentam é que a quantidade de material recolhido nos descartes clandestinos já cresceu 10% de 2013 para 2014, subindo da média de 294 toneladas diárias para 324 toneladas.
Apesar disso, e mesmo depois de denúncias e de prometer mais fiscalização, o poder público não só se mostrou incapaz de impedir que rodovias continuassem a ser usadas como bota-foras, como permitiu que esse crime ambiental começasse a proliferar cidade adentro. Uma das principais vias de acesso ao Belvedere – bairro tem um dos metros quadrados mais caros da capital mineira –, a Rua Presidente Eurico Dutra foi tomada por duas sequências de montes de terra, pedras, pedaços de madeira e restos de construções. No primeiro trecho, que fica próximo ao número 300, as pilhas têm mais de 1,60 metro de altura e se prolongam de dentro de um lote vago para o passeio, bloqueando quatro dos cinco metros de área para a circulação de pedestres. Quarenta metros adiante, outra sequência de montes de entulho encobre completamente o passeio, se alongando por cima da área destinada aos pedestres por mais 45 metros, até a entrada para a Estação da Copasa no bairro.
Com o surgimento dos dois pontos de descarte clandestino, a impunidade incentiva mais sujeira, já que os locais acabaram se tornando também depósitos de lixo doméstico, acumulando rejeitos como garrafas usadas, embalagens descartáveis, maços de cigarro, restos de comida e até preservativos. Em sua corrida matinal, o estudante Rodrigo Muniz, de 17 anos, morador do Belvedere, e dois colegas tiveram de desviar pela rua quando se depararam com os montes de entulho bloqueando o caminho. “O bairro aqui sempre foi muito organizado e limpo. Essa sujeira começou há pouco tempo e é um absurdo. Falta mais fiscalização, e limpeza também”, disse.ATERRO Do outro lado da BR-356, na saída para Ouro Preto, os bairros vizinhos também têm sofrido com descartes ilegais de entulho. Bem nas margens da via, que é uma das mais movimentadas da capital, poucos metros antes do trevo que leva à Avendia Raja Gabaglia, no Bairro Santa Lúcia, dois grandes montes de restos de construção e de aterros foram despejados sobre a área de terra que serve de passeio. No interior do bairro residencial, mais dois grandes espaços foram abarrotados por pilhas de entulho, na Rua Planetóides, próximo ao Shopping Ponteio. Os descartes de terra, pedras e restos de louças sanitárias são tão volumosos que chegaram a aterrar parte dos desníveis dos lotes, encobrindo as árvores e a vegetação.
Apesar das pilhas de entulho encontradas pela equipe do Estado de Minas em bairros que não sofriam com esse tipo de infração, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou apenas que o problema tem diminuído, porque as áreas vagas que eram usadas estão em construção ou foram cercadas. Sujeira cresce diante de falha na fiscalização
Áreas de bota-fora na BR-040 e na MG-030 continuam a avançar sobre faixas de domínio às margens das pistas, mesmo depois de denúncias e de as prefeituras de Belo Horizonte e de Nova Lima anunciarem, no ano passado, uma força-tarefa para combater o problema recorrente. “A cada dia, esses montes de entulho aumentam um pouco. Onde estão os policiais, fiscais, guardas municipais, órgãos ambientais e vereadores que deveriam fazer alguma coisa sobre um problema que está na cara de todos?”, questiona o engenheiro Klaus Meyer, de 58 anos. Morador do Bairro Vila da Serra, ele precisa andar pela MG-030 pelo acostamento, quando vai a pé ao BH Shopping, porque o caminho pelo passeio foi completamente tomado por montanhas de entulho no limite entre BH e Nova Lima.
A Prefeitura de Nova Lima foi procurada, mas até o fechamento desta edição não se posicionou sobre o problema. A força-tarefa na BR-040 foi destituída depois que a concessionária Via 040, que assumiu a rodovia, passou a gerenciá-la. Segundo a empresa, entre Brasília e Juiz de Fora já foi recolhido o equivalente a 1.818 caminhões de resíduos como entulho, pneus e massa verde (restos de poda). Foram também desobstruídos 663 quilômetros de sistemas de drenagem.
Cercas estão sendo instaladas em locais onde é comum o descarte ilegal e fiscais patrulham a estrada 24 horas, segundo a Via 040, com a missão de informar às autoridades sempre que irregularidades forem flagradas. Em uma próxima etapa devem ser instaladas câmeras em pontos estratégicos, para flagrar a ação de infratores.
14-11-2014