Uma disputa no mercado de coleta de lixo provocou greve entre os garis de uma empresa terceirizada que presta serviços à Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e deixou sujas as ruas das regionais Leste, Nordeste e Noroeste. Pelas esquinas e principalmente nas portas de padarias, restaurantes e sacolões, o acúmulo de sacos de lixo chegava a atrapalhar a passagem nas calçadas. A SLU, num plano de emergência, mobilizou as equipes multitarefas – aquelas que cuidam da capina, da apreensão de animais e da limpeza de eventos especiais da prefeitura – para dar conta da coleta atrasada até hoje. A situação só deverá estar normalizada na segunda-feira, quando passa a vigorar o contrato da empresa que assumirá a limpeza nessas regionais.
“É uma falta de respeito principalmente porque pagamos taxa de limpeza. No caso do nosso estabelecimento, custa R$ 61,80. A coleta é diária, mas fomos pegos de surpresa e os sacos de lixo se amontoaram aqui na porta, o que nos prejudica pelo mau cheiro e pela aparência”, reclamou o empresário Bruno Carvalho, de 24 anos, proprietário de uma lanchonete no Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste. “Fora os catadores que acabam rasgando os sacos e espalhando o lixo. Hoje (ontem) mesmo, tivemos que jogar água para lavar o chorume, que já estava incomodando.”
Os 150 garis da empresa Fossil Saneamento entraram em greve na quinta-feira, suspendendo a coleta das regionais Noroeste e Nordeste. Ontem, dia de limpeza na Regional Leste, se recusaram a trabalhar. Eles alegam que foram convidados para trabalhar na empresa vencedora por um salário mais alto e benefícios e querem ser demitidos, mas a Fossil, que atende outras regionais, pretende realocá-los e não dará a demissão. Uma equipe até recolheu o lixo na Regional Nordeste, mas a empresa decidiu puni-los descontando os dias não trabalhados. A Fossil também foi multada pela SLU em R$ 33,6 mil – R$ 1,6 mil para cada um dos 21 compactadores que deixaram de circular. O valor da multa estipulada inicialmente era de R$ 800, dobrando nos últimos seis meses de contrato, como era o caso.
Num ponto de ônibus da Avenida Silviano Brandão, os passageiros disputavam espaço com uma grande quantidade de sacos pretos. “O mau cheiro é o pior”, queixa-se a farmacêutica Roberta Scalzo de Lima, que esperava o ônibus para ir ao Centro. Na rua dela, a Pouso Alegre, no Bairro Santa Tereza, o acúmulo de lixo era grande, em função da quantidade de estabelecimentos comerciais. Por causa do atraso na coleta, dois caminhões abarrotados de lixo atrapalhavam o trânsito na Rua Mármore, no mesmo bairro.
“É um incômodo muito grande para o morador. Na verdade, é um absurdo que os passeios fiquem assim, intransitáveis, além de anti-higiênico. Todos têm direitos e deveres, mas esse é um serviço básico”, afirmou o pensionista e historiador Joaquim Pedro Aguiar, de 58 anos, ao deixar um sacolão. A balconista Charliane Alves, de 20, disse que os garis costumam recolher o lixo antes das 9h e até estranhou porque ontem eles só passaram cinco horas depois. A SLU não soube precisar quantos bairros foram atingidos porque, na Regional Nordeste, a Fossil atende dois terços do bairro. O órgão informou que liberou 30 funcionários e 70 caminhões basculantes (três conseguem recolher o equivalente ao de um compactador) para tentar colocar em dia a coleta. Para evitar mais problemas, a Ecopav assinou ontem um termo de responsabilidade, garantindo que começa a trabalhar na segunda-feira, com infraestrutura, equipamentos e pessoal necessários para a coleta dessas três regiões.
A gerente operacional da Fossil, Eliana Paula de Miranda, disse que os 70 garis que atuam na Regional Leste cruzaram os braços ontem. “A empresa vencedora foi atrás dos nossos coletores, oferecendo melhores condições, mas eles queriam ser demitidos. Mas, como a empresa não vai demiti-los porque venceu outros lotes da licitação e poderia realocá-los em outras regionais, eles não quiseram sair. Só vão mesmo perder os dias que faltaram”, afirmou.
ENTENDA O CASO
As novas empresas começaram a assumir a limpeza da cidade no início do ano. Foram três lotes de licitação – para cada três regionais – e o segundo lote acabou dando trabalho à prefeitura. Para as regionais Leste, Nordeste e Noroeste, a empresa Localix venceu a licitação com menor preço, mas desistiu do trabalho quando o contrato já estava homologado, a dois meses do início da operação, alegando que não poderia sustentar o valor oferecido. Em caráter de urgência, a SLU lançou edital de dispensa de licitação e somente na segunda tentativa sete empresas se inscreveram. Duas foram eliminadas e a vencedora foi a Ecopav, que inicia os trabalhos nesta segunda. A Fossil, que cuida dessas regiões atualmente, concorreu com outra empresa do grupo e ficou em último lugar. Mas ofereceu proposta de cobrir em R$ 50 mil o valor mais baixo, o que foi recusado pela SLU, já que não se tratava de um leilão.