Captação e tratamento do esgoto estão longe do ideal

Mau cheiro, aumento de insetos e de roedores, prejuízos para o comércio, risco para a saúde da população. Na semana em que se celebra o Dia Mundial da Água, os problemas gerados pela falta de tratamento e pela inexistência de redes de esgoto nas cidades brasileiras vêm à tona. Embora haja diversos projetos e investimentos, o déficit é preocupante e atinge cada vez mais pessoas no mundo inteiro.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2009 a 2011, a expansão da coleta de esgoto no Brasil foi de pouco mais de 3%. Para um país em que quase 40% dos domicílios não estão sequer conectados à rede coletora, é muito pouco.

O próprio governo federal reconhece que apenas 38% de todo o esgoto brasileiro produzido recebe algum tipo de tratamento. O resto impacta violentamente rios, lagos, manguezais e partes do nosso litoral. São aproximadamente 15 bilhões de litros de esgoto sem tratamento despejados a cada dia no Brasil.

Um dado curioso do relatório produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), é que aproximadamente 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo ainda fazem suas necessidades fisiológicas a céu aberto. No ranking, os brasileiros estão em terceiro lugar, depois somente da Índia e da China, representando 7,2 milhões de pessoas sem banheiro.

De acordo com Frank Deschamp, presidente da Copasa Serviços de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Copanor), os elevados custos de construção e manutenção de redes coletoras dificultam a implantação e a universalização desse serviço e contribuem para o déficit de atendimento.

Novos investimentos. Na região Nordeste de Minas, onde a Copanor atua, o déficit de rede para coleta de esgoto atinge entre 70% e 80% da população da área rural.

Segundo Deschamp, investimentos estão sendo feitos no local no intuito de reverter esse quadro e melhorar a qualidade de vida. "Para este ano, está previsto investimento de R$ 150 milhões. Em 2014, serão destinados mais R$ 200 milhões", afirma ele.

Nesta semana, o governo estadual e a Copasa lançaram um programa batizado de Água da Gente, orçado em R$ 4,5 bilhões, para ampliar as redes de água e esgoto - e que pretende reduzir de 34% para 15% o déficit do tratamento de esgoto até 2016. No entanto, a meta só abrange 277 das 853 cidades do Estado.

No Estado, do total de resíduos coletados atualmente, 66% passam por tratamento antes de irem para os rios. A meta é chegar a 85% em dois anos. O problema é que a falta de tratamento de esgoto vai além dos 277 municípios. O presidente da Copasa, Ricardo Simões, explica que os municípios têm o poder de cuidar do saneamento - ou delegar essa tarefa à Copasa.

"Enquanto isso, o sentimento da população é o de que os rios do Estado estão morrendo. O que queremos é tratamento de 100% do esgoto de Minas", ressalta Apolo Heringer, idealizador do projeto Manuelzão.

Óbitos ainda preocupam. É preocupante a lentidão com que o saneamento básico avança no Brasil. A precariedade dos serviços atinge diretamente a saúde da população. Doenças como diarreia, hepatite A, verminoses, infecções bacterianas, febre tifoide e cólera são provocadas principalmente em crianças pelo despejo de esgoto em lagos, rios, mares e mananciais.

No ano passado, o IBGE verificou que tanto a mortalidade infantil (até 1 ano de idade) quanto na infância (até 5 anos), foram menores nos domicílios com esgotamento sanitário. Nas residências atendidas com rede geral de esgoto, a taxa de mortalidade infantil foi de 14,6 óbitos para cada mil nascidos vivos, e a de mortalidade na infância ficou em 16,8 para cada mil nascidos vivos.

Enquanto isso, nos domicílios com esgotamento por vala, as taxas de mortalidade infantil e na infância foram de, respectivamente, 21 por mil e 24,8 por mil. "Para evitar a maioria das doenças relacionadas à contaminação de água, o ideal é que as pessoas que vivem em locais com precariedade de instalação de redes de esgoto fervam esse recurso antes de consumi-lo. Para população de modo geral, é aconselhável evitar nadar em rios, lagos e locais onde não sabemos as condições da água", recomenda o infectologista Carlos Starling.

Números

Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2010, o índice de atendimento com rede de esgotos em Minas foi de 63,1% da população total e 73,1% da urbana.

Segundo a Copasa, em BH, 82,98% do esgoto produzido é efetivamente tratado. Já o percentual do esgoto produzido na RMBH que é efetivamente tratado é de 62,10%.

Ao todo, são 36 Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) em operação, espalhadas na Grande BH.

 

Fazendo a diferença

Embora sejam necessários investimentos em coleta e tratamento de esgoto, não basta só implantá-los. É necessário mantê-los e, para isso, a população não só pode, como deve contribuir.

Segundo especialistas, ações simples como não jogar lixo no vaso sanitário, não derramar óleo de fritura na pia e não abrir a rede de esgoto em residências são algumas medidas que fazem diferença, pois evitam entupimento, rompimentos e problemas na hora das chuvas. (MX)