Quase às vésperas do Dia Mundial da Água - comemorado amanhã -, o governo estadual e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) lançaram um programa orçado em R$ 4,5 bilhões para ampliar as redes de água e esgoto: o Água da Gente, que pretende reduzir de 34% para 15% o déficit do tratamento de esgoto até 2016. No entanto, a meta só abrange 277 das 853 cidades de Minas e está bem longe de sanar o problema de contaminação dos rios no território mineiro.
Isso porque o Água da Gente só vai beneficiar as cidades atendidas pela Copasa. No caso do serviço de esgoto, são 277 - onde 90% da população tem coleta de esgoto, sendo que há a promessa de se chegar a 95% até 2014. Do total de resíduos coletados, atualmente, 66% passam por tratamento antes de irem para os rios. A meta é chegar a 85% até 2016.
Já a rede de água terá aportes em 625 municípios conveniados à companhia, ampliando de 14 milhões para 15,2 milhões o número de mineiros assistidos. Nas demais localidades, "cabe às prefeituras resolver", disse o governador Antonio Anastasia, durante o lançamento do programa, na manhã de ontem, na Cidade Administrativa, na capital.
O problema é que a falta de tratamento de esgoto vai além dos 277 municípios. Pelo último balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - o Atlas de Saneamento 2011, feito com base em dados de 2008 -, só 197 cidades tratam os resíduos, 23% do total. O Ministério das Cidades e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) não informaram números mais atualizados. Na capital, segundo a Copasa, 92,28% do esgoto coletado é tratado.
Crítica. O que não passa pelo filtro é despejado diretamente nos rios e causa poluição, morte de peixes e outros danos ambientais. "O sentimento da população é o de que os rios do Estado estão morrendo", afirmou o idealizador do projeto Manuelzão, que busca a revitalização da bacia do rio das Velhas, Apolo Heringer.
Segundo ele, com exceção do rio das Velhas, na região metropolitana, "que teve melhora razoável", as demais águas continuam em situação lastimável. "O que queremos é tratamento de 100% do esgoto de Minas", completou Heringer.
O presidente da Copasa, Ricardo Simões, explicou que os municípios é que têm o poder de cuidar do saneamento ou delegar essa tarefa à Copasa. "Se pudéssemos, trataríamos todo o esgoto para limpar todos os rios do Estado", argumentou. Ele disse que parte dos R$ 4,5 milhões será usada ainda, para a recuperação de rios, como o Jequitinhonha.
Já o governador comentou que, para os padrões brasileiros, os números da rede de saneamento de Minas são "extraordinários". "Sabemos que ainda temos muito mais a cumprir", ponderou Anastasia.
Falta de esgoto e água é mais grave na região Nordeste
Na região Nordeste de Minas, o déficit de rede para coleta de esgoto atinge entre 70% e 80% da população da área rural, segundo o presidente da Copasa Serviços de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Copanor) subsidiária da Copasa , Frank Deschamp. Falta abastecimento de água também para 60% dos moradores.
São esses fatores que levam ao baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das regiões e que motivaram a criação da Copanor, em 2007, para cuidar especificamente dos municípios do Nordeste e do Norte que também estão entre os piores na área de saneamento. "Nesses locais, temos dificuldade de achar fontes de água, como rios, lagos e poços artesianos, que atendam à demanda", disse.
Outra dificuldade, segundo Deschamp, é levar redes de água e esgoto para áreas onde não há adensamento populacional. "Se as moradias forem muito dispersas, o custo de implantação do saneamento fica muito alto".
Nessas regiões, segundo ele, os moradores que recebem serviços da Copanor pagam uma tarifa de água e esgoto 80% mais barata do que nos demais locais. Para este ano, está previsto investimento de R$ 150 milhões no Nordeste. Para 2014, serão destinados mais R$ 200 milhões. "Já no Norte, estamos na fase de estudo para definição dos projetos", concluiu Deschamp. (LC)