Moradores de bairros situados nas partes mais altas dos municípios de Santa Luzia e Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), devem ficar sem o fornecimento regular de água pelos próximos 30 dias. Esse é o prazo previsto para o término das obras da estação de bombeamento do bairro São Cosme, em Santa Luzia. O local vai acionar uma segunda câmara no reservatório de 1 milhão de litros, construído na região do Santa Clara, no município vizinho de Vespasiano.
Entretanto, a solução definitiva da falta de água crônica nos dois municípios só deverá ocorrer com a inauguração da chamada Linha Azul, um sistema que vai melhorar o abastecimento em toda a RMBH. A conclusão da obra está prevista apenas para o segundo semestre deste ano, conforme admitiu, na última quarta-feira (7), a Copasa.
Na última segunda-feira, a agonia dos moradores de bairros como São Cosme, Gávea e Palmital, sem água há seis dias, motivou uma grande manifestação, que interditou a Linha Verde durante três horas. O protesto provocou um congestionamento de oito quilômetros e o desespero de milhares de motoristas. Muitos deles chegaram a perder seus voos no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins.
Na última quarta-feira (7), o chefe do Departamento Operacional da Metropolitana da Copasa, engenheiro João Andrade do Nascimento, admitiu que o problema foi provocado por um aumento de consumo na ordem de 20%. Segundo Nascimento, o aumento de consumo foi provocado por três fatores: as altas temperaturas, o desperdício de água – já que muitos moradores insistem em lavar calçadas e terreiros – e um grande número de ligações clandestinas na rede da empresa.
Ele garantiu que, em 17 anos, é a primeira vez que esse problema ocorre. Nascimento calculou que pelo menos 5 mil residências e 20 mil moradores foram afetados nos bairros situados nas regiões mais altas dos dois municípios.
O chefe do departamento reconheceu que as regiões teriam ficado sem água por até quase uma semana, mas que a situação já foi praticamente contornada. “Tivemos de fazer algumas manobras e redirecionamento na malha gigantesca de abastecimento, além de usar caminhões-pipa para minimizar o problema”, diz. Ele revelou também que há um reservatório, no bairro Santa Clara, que já está pronto para ser usado.
Na noite da última terça-feira, populares ensaiaram um novo protesto, também na Linha Verde, que acabou não ocorrendo. Na última quarta-feira (7) pela manhã, moradores do bairro Industrial Americano, em Santa Luzia, disseram que havia água em suas residências. “Aqui é sempre assim. Na mesma hora em que temos água, ela acaba. Não sabemos até quando podemos contar com o serviço”, disse uma mulher, que pediu anonimato.
Agência reguladora diz que não foi acionada
A situação do fornecimento irregular de água para moradores de Santa Luzia e Vespasiano configura, em tese, um falha na prestação do serviço. Entretanto, a Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae/MG) informou que não pode tomar nenhuma providência junto à Copasa. É que, segundo a Arsae, ela ainda não foi acionada ou procurada, oficialmente, pelos que estão sendo prejudicados (população, cidadão, instituições ou prefeito/prefeitura).
Em sua página na internet, a agência esclarece que tem a missão de “exercer a função de regulação dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário com independência e transparência decisória, buscando a universalização do atendimento e a qualidade dos serviços, em benefício da saúde pública e em compromisso com o meio ambiente”. A sede da Arsae está localizada na Cidade Administrativa, sede do governo mineiro.
Audiência pública vai discutir o problema
Moradora do bairro Industrial Americano, em Santa Luzia, há dois anos, a dona de casa Wanda Moreira, de 45, disse que o problema de falta de água no bairro é antigo. Segundo ela, na noite da última terça-feira, funcionários da Copasa passaram no bairro com um “mapinha” para fazer um levantamento das casas que estavam sem água. Ela afirmou que o abastecimento estava normal no bairro.
O drama vivido por moradores de bairros de Santa Luzia e Vespasiano, que enfrentam a falta de água há vários dias, será alvo de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nos próximos dias. Ontem, o presidente da Comissão dos Direitos dos Consumidores e Contribuintes, deputado Délio Malheiros (PV), anunciou que já providenciou o requerimento para a realização da audiência.
“Queremos chamar a Copasa para que se explique, os moradores afetados e o Ministério Público”, destaca o deputado. Na quarta-feira (7), o Hoje em Dia tentou fazer um contato com a Promotoria de Defesa dos Consumidores, mas, segundo a assessoria de comunicação, o responsável estava em reunião.