O período de chuvas castigou diversas cidades de Minas Gerais e, agora, a capital mineira assiste a população descartando o que não serve mais em seus córregos. Geladeiras, fogões, sofás, televisores, colchões, guarda-roupas e tanquinhos são despejados em quantidade suficiente para encher uma frota de caminhões.
De acordo com matéria do jornal O Estado de Minas, em 2011 foram recolhidos pelo menos 13.222 metros cúbicos de material dos cursos d'água da cidade. Com esse volume daria para encher 1,1 mil caminhões-caçamba. O jornal fez um levantamento da quantidade de lixo recolhido no ano passado em quase todas as regionais da Superintendêndia de Limpeza Urbana (SLU) de Belo Horizonte. Os números impressionam: 623 pneus, 70 sofás, 36 fogões, 24 caixas-d'água, 95 malas de viagem, 709 televisões, 4.870 restos de guarda-roupas, 838 colchões e até vasos sanitários e banheiras.
Segundo o veículo, a SLU informou que não tem o balanço de toda a cidade e não quis comentar a situação. No entanto, dados de janeiro a outubro divulgados em 2011 pela própria SLU mostram que foram retiradas 3,2 mil toneladas de lixo e entulho dos cursos d'água durante os 10 meses. A quantidade de resíduos é praticamente a mesma enviada diariamente ao aterro sanitário Macaúbas, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Para o gerente de Limpeza Urbana da Regional Centro-Sul, Denílson Freitas, parte do problema é causado pela população, que precisa se conscientizar. "As pessoas ainda não têm ideia do risco que isso representa para elas próprias. Todos os anos limpamos cada córrego quatro vezes, em média, e sempre nos deparamos com eles lotados de lixo. A primeira coisa que ocorre quando chove é o entupimento das bocas de galeria e a inundação das casas. Em determinados locais é comum tirarmos de cinco a seis geladeiras de uma vez", relata. Ele acrescenta que após a limpeza é feito trabalho de mobilização para tentar evitar que mais lixo seja jogado nos córregos.
Maria Giovana Parizzi, professora do Departamento de Geologia da UFMG e doutora em área de risco, acredita que as pessoas não jogam seus lixos por mal, mas simplesmente porque não têm ideia de que aquilo pode causar algum dano. "O lixo de modo geral pode aumentar a sujeira na água. Na área urbana, tudo isso está canalizado, mas esse rio vai sair da cidade e desaguar em outro, prejudicando tudo. As partículas diminuem ainda a luminosidade (a entrada de raios de sol) e modificam a temperatura. A profundidade do leito do rio também fica comprometida e isso altera o equilíbrio do ambiente", relata. A professora ainda levanta a questão das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Já não há estações suficientes e, quanto mais sujeira chegar, mais ineficiente será o tratamento.