Obras limpas têm custo menor e beneficiam meio ambiente

O número de empreendimentos que possuem selos verdes no Brasil ainda é pequena, mas a busca de soluções sustentáveis é cada vez mais comum entre as construtoras, que investem para reduzir os impactos ambientais na fase de obras e na operação dos empreendimentos.

Ao contrário do que pode parecer, essas soluções nem sempre são caras. O engenheiro do grupo EPO, Guilherme Santos, explica que opções simples viabilizam a redução do consumo de água e energia e fazem grande diferença não só para o meio-ambiente, mas também nas despesas no fim do mês. "Em um prédio que tem janelas amplas, de vidro, não há necessidade de acender as luzes antes das 18h. O aquecimento solar também é uma ótima alternativa, que hoje em dia é bem barata para um edifício", exemplifica.

A preocupação começa ainda no canteiro de obras. A EPO, por exemplo, criou há um ano o Programa Desperdício Zero (PDZ). A coordenadora de comunicação e marketing Carolina Lara explica que há um acompanhamento da geração de resíduos para minimizar o desperdício e realizar o descarte adequado. "As sobras de madeira são reaproveitadas em outras obras ou vendidas para empresas que precisam de lenha. Enfatizamos muito a conscientização ambiental dos funcionários e, além de promovermos treinamentos constantes, nós revertemos a renda do que arrecadamos com as sobras vendidas em churrascos e cafés da manhã, para estimular essa consciência", conta Carolina.

Ainda pelo PDZ, os restos de concreto são doados para a Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (SLU), que os transforma em areia e brita para usar em outras obras. O ferro é vendido para ferro-velhos e o plástico e o papel são doados para a Asmare.

Daqui três anos, o Edifício Sol será inaugurado no Vale do Sereno, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, e terá até tomada para carregar carros elétricos na garagem.

Na construtora Líder, a prioridade é para materiais certificados, da matéria-prima ao acabamento. Os condomínios contam também com sistemas inteligentes de água e energia, aquecimento solar e coleta seletiva de lixo. "O consumidor final valoriza isso", diz o superintendente técnico, Henrique Álvares de Lima e Silva.

O vice-presidente de Materiais, Tecnologia e Meio-Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Jardim Linhares Júnior, diz que esses recursos serão cada vez mais comum nas obras. Ele lembra que, há 20 anos, os índices de desperdício giraram em torno de 30% do custo da obra e, hoje, estão entre 5% e 6%.

Impacto
Construção. Setor é responsável pela extração de 75% dos recursos naturais e pela geração de 80 milhões toneladas/ano de resíduos, e contribui de forma significativa na liberação de CO2,segundo o Green Building Council.

Flash
A operação de edifícios no Brasil é responsável por aproximadamente 18% do consumo total de energia do país e por cerca de 50% do consumo de energia elétrica.

Madeira, água e concreto são reaproveitados
A madeira que era forma é aproveitada em mecanismos de proteção coletiva, depois se transforma em piquete para fixar placas no chão. Esse é o ciclo da obra da Mineração Usiminas em Itatiaiuçu, na região Central de Minas.

"Vamos usando em serviços cada vez menores do que os anteriores. Quando não dá mais para reutilizar, a madeira é enviada para o aterro e a prefeitura dá a destinação correta", explica o gerente de contrato da construtora Mello Azevedo, Rogério Pekny. Os resíduos de concreto têm o mesmo destino. Já os plásticos e papéis são enviados para uma cooperativa que recicla o material.

Ele completa que, quando é possível, a empresa também opta por formas metálicas, para reduzir o uso de madeira bruta. Outra medida adotada pela construtora é o reutilização de água, que pode ser destinado às descargas de banheiro ou para a lavagem da obra e seu entorno.