Serra da Moeda poderá entrar para a lista de patrimônios mundiais em perigo

A Serra da Moeda (localizada entre os municípios de Nova Lima e Jeceaba), que foi indicada por uma organização civil de Minas Gerais para integrar a Lista de Monumentos Mundiais em Perigo da World Monumenst Fund (WMF), poderá ser o próximo monumento brasileiro a receber recursos internacionais para sua preservação. Atualmente, o único bem brasileiro inscrito na Lista é o Centro Histórico de Salvador.
A afirmação é da diretora de programas do World Monuments Fund (WMF) para América Latina, Espanha e Portugal, Norma Barbacci. Ela esteve em Belo Horizonte, no dia 6 de outubro, para conhecer de perto os trabalhos desenvolvidos pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) na defesa do patrimônio cultural e, especialmente, da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais.
A diretora de programas do WMF - entidade que tem por objetivo despertar a atenção internacional para heranças culturais excepcionais que necessitam de assistência e proteção - informou que o dossiê sobre a Serra da Moeda deixou evidentes a relevância da proteção do conjunto montanhoso e as ameaças que o cercam, sendo quase certa a sua aprovação para ingresso na próxima lista de bens mundiais em perigo.


SERRA DA MOEDA
A Serra da Moeda, que se estende de Nova Lima a Jeceaba, reúne um conjunto de bens culturais e ambientais de extrema relevância. São sítios arqueológicos pré-
-históricos com pinturas rupestres e cerâmicas; dezenas de grutas e cavernas em canga de minério de ferro e ruínas históricas, como o Forte de Brumadinho, a Fábrica de Moedas Falsas de São Caetano e a Fábrica de Ferro Patriótica. A região apresenta ainda áreas turísticas, como o Clube do Voo do Topo do Mundo, e recarga de aquíferos que abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte ricas em plantas endêmicas.
Trata-se de um alinhamento montanhoso rico em ouro, descoberto pelos bandeirantes paulistas nos primeiros tempos de Minas Gerais e, não por acaso, se situa entre dois dos mais importantes conjuntos arquitetônicos do Estado, reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco: a cidade de Ouro Preto e a Basílica de Bom Jesus de Matozinhos, com os profetas e capelas considerados a obra máxima de Aleijadinho.


AMEAÇAS
Para Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, entre as principais ameaças ao patrimônio cultural da região da Serra da Moeda, destacam--se duas. A primeira: a tentativa de exploração, pela empresa Vale, de minério de ferro na Serra da Calçada, repleta de cavernas, vestígios arqueológicos e área de mananciais. A segunda: a pretendida expansão da Mina Casa de Pedra pela Companhia Siderúrgica Nacional em Congonhas, o que implicará a destruição do Pico do Engenho, que serve de moldura ao conjunto dos profetas de Aleijadinho e é responsável pela maior parte do abastecimento de água do Município.
Além da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, atuam na defesa da Serra da Moeda os promotores de Justiça Andressa Lanchoti (Nova Lima), William Garcia (Brumadinho) e Fernanda Garcia (Belo Vale), Vinícius Galvão (Congonhas), com o apoio de Carlos Eduardo Ferreira Pinto (coordenador das Promotorias Ambientais dos Rios das Velhas e Paraopeba).
"Entendemos a importância da mineração na Serra da Moeda, que tem áreas completamente já degradadas pelas atividades minerárias, como as minas de Pau Branco, Várzea do Lopes, Fábrica e Casa de Pedra. Mas não podemos admitir a destruição de locais dotados de excepcional valor, como é o caso da Serra da Calçada e do Pico do Engenho. É preciso encontrar um ?ponto de equilíbrio? e iremos atuar forte nesse sentido. O interesse internacional pelo problema é um indicativo de que esse patrimônio pertence a todos os habitantes do planeta e não pode ficar sujeito a meros interesses econômicos e políticos locais.", destaca o promotor de Justiça


WORLD MONUMENTS FUND
A World Monuments Fund (WMF) é uma organização privada sem fins lucrativos dedicada à preservação da arquitetura histórica e sítios de interesse histórico ao redor do mundo por meio de trabalho de campo, advocacia, doações, educação e treinamento.
Fundada em 1965, a WMF tem sede em Nova Iorque e conta com escritórios afiliados em todo o mundo, incluindo Camboja, França, Peru, Portugal, Espanha e Reino Unido. Seus afiliados identificam, desenvolvem e gerenciam projetos e parcerias locais. Além disso, captam suporte para complementar os fundos provenientes dos doadores.
No próximo ano 41 países serão contemplados com recursos obtidos pela World Monuments Fund, entre eles Argentina, Japão, Holanda, Turquia, República Dominicana e Grécia. O Brasil entrou na lista com o Centro Histórico de Salvador (BA), que receberá recursos para serem aplicados na sua preservação.

 

NORMA BARBACCI
Norma Barbacci faz parte da WMF desde 2001. Ela é diretora de programas para América Latina, Espanha e Portugal e gerencia todos os projetos de campo e iniciativas. Barbacci é bacharel em arquitetura pela Carnegie Mellon University, onde foi agraciada com a AIA School Medal e recebeu o certificado da Adams Fund pela excelência no estudo em arquitetura. Norma é mestre em preservação histórica pela Columbia University, onde foi premiada pela tese de preservação histórica referente ao estudo de adaptação de reuso do complexo medieval da cidade de Bagnoregio, na Itália. Antes de fazer parte da WMF, Norma Barcacci trabalhava como arquiteta de conservação na Beyer Blinder Belle Architects and Planners.