A energia que vem do seu esgoto

Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande em parceria com a CEEE busca a viabilidade de produzir energia elétrica a partir do esgoto urbano e industrial

Da descarga se fará a luz. Eis uma profecia ainda incerta. Verificar a viabilidade de gerar energia elétrica em larga escala a partir do esgoto urbano e industrial, tratando os dejetos, é a missão de pesquisadores do sul do Estado.

Professores da Escola de Química e Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), financiados por R$ 1 milhão da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), labutam para responder dúvidas compartilhadas no mundo todo. Desde o início do ano, investem em uma forma econômica de explorar a tecnologia.

Hoje, fezes e urina de homens e animais já são aproveitadas para se obter energia elétrica e térmica e biofertilizantes. No processo, os efluentes acabam tratados, ponto deficitário nos municípios gaúchos. Em Porto Alegre, por exemplo, 27% do esgoto é tratado, número que deve chegar a 80% nos próximos anos. Segundo o Instituto Trata Brasil , em 81 grandes cidades do país, 64%, ou 5,9 bilhões de litros de dejetos diários, vão direto para o ambiente. Ou seja, há uma imensidão a se explorar.

- É preciso parar de ver o esgoto como problema, e sim como matéria-prima - brada Jorge Gaiofatto Pires, diretor-técnico do O Instituto Ambiental (OIA), que há quase duas décadas desenvolve projetos para reciclar e tratar efluentes.

O Biossistema Integrado, mecanismo utilizado pelo OIA para produzir energia a partir do esgoto, lança mão da geração biológica de gás, o biogás (veja mais ná página ao lado). No caso da Furg, as ações estão no campo da pesquisa. A bioeletricidade, como é chamada a tecnologia, não usa o biogás. A descarga, a água que vai pelo ralo ou desce na pia segue até um biogerador recheado de micro-organismos. Eles queimam a matéria orgânica e liberam elétrons, que formam uma corrente elétrica (confira o processo completo no infográfico). O projeto prevê a criação de um protótipo nacional do biogerador e deve ter, no final de 2012, estimativas mais claras de viabilidade. Pode ser a chance de ver as descargas dos lares gaúchos ajudando a gerar energia.

- Temos que avançar no desenvolvimento desta tecnologia, para determinarmos o seu potencial econômico e definir sua aplicabilidade nas nossas casa - explica Fabricio Santana, coordenador da pesquisa, ao lado da professora Christiane Saraiva Ogrodowski e do engenheiro químico da CEEE Marcelo Fraga, gerente do projeto.

Números

Cada quilo de matéria orgânica degradada pode gerar até 86 watts-hora

Em uma cidade de 100 mil habitantes, é possível gerar 2,6 megawatts

É o suficiente para abastecer uma cidade de 13,6 mil habitantes

Um litro de esgoto, tem, em média, 600 miligramas de matéria orgânica

O Instituto Trata Brasil , com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes a 2008, publicou um ranking de avaliação dos serviços de saneamento em 81 cidades brasileiras, todas com mais de 300 mil habitantes:

129 litros de água por dia é o consumo médio por pessoa na população analisada

9,3 bilhões de litros de esgoto é o total gerado todos os dias por essa população

5,9 bilhões de litros de esgoto é o total de esgoto gerado por essa população que não recebe nenhum tratamento

Em média, apenas 36% do esgoto gerado nessas cidades recebem algum tipo de tratamento

150 litros de água por dia é o consumo médio do brasileiro

80% em média da água consumida se transforma em esgoto