Estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação, divulgado em março, concluiu que um terço do território de Minas Gerais pode virar "deserto" em 20 anos. O desmatamento, a monocultura e a pecuária intensiva, somados a condições climáticas adversas, estão empobrecendo o solo de 142 municípios do estado.
Se nada for feito para reverter o processo, de acordo com o estudo, essas terras não terão mais uso econômico ou social, o que vai afetar 20% da população mineira. Os resultados obrigariam 2,2 milhões de pessoas a deixar a região norte do estado e os vales do Mucuri e do Jequitinhonha. A região engloba os biomas do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.
O responsável pelo estudo, Rubio de Andrade, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas, afirmou que "a terra perde os nutrientes e fica estéril, não serve para a agricultura nem consegue sustentar a vegetação nativa".
Segundo o governo do estado, é preciso investir R$ 1,3 bilhão nas próximas décadas para frear o processo, que já causa danos no semiárido mineiro. Lá estão 88 das 142 cidades consideradas suscetíveis à desertificação.
A professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, Vladia Oliveira, disse que áreas desertificadas são diferentes de desertos naturais porque passam por um acentuado declínio de biodiversidade até se tornarem estéreis.
"Já os desertos são ecossistemas com sustentabilidade, ainda que com baixa diversidade. Eles estão vivos," afirmou Vladia.
Andrade diz que, para reduzir o fenômeno, é preciso aumentar as reservas naturais de vegetação e recuperar os recursos hídricos. O Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação terá R$ 6 milhões neste ano para combater a desertificação no país.
O agricultor Geraldo Moreno, dono de três hectares em Espinosa (700 km de BH), já sente as mudanças em sua pequena lavoura de feijão. "Se der para [alimentar] a família dá para comemorar", diz ele, que sustenta mulher e quatro filhos com a terra.
"Aqui não chove quase nada e não tenho dinheiro para adubar a terra. O que salva são as cabras, mas estão magras", diz o Geraldo.
O governo pretende reduzir o espaço destinado ao gado nas áreas de caatinga e restringir atividades prejudiciais ao meio ambiente, como a extração de carvão.
"A população tem de se conscientizar de que, se essas ações não forem tomadas, nada mais poderá ser produzido", diz Andrade.